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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SOCIEDADE MUSICAL LYRA DE APOLLO - CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)


CAMPOS DOS GOYTACAZES EM FOTOS comenta:
     Um dos itens que a Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de Campos, incluiu num impresso denominado BELEZAS DE CAMPOS, é a Sociedade Musical Lyra de Apollo fundada em 19/05/1870. A Lyra sofreu um incêndio em 1990 e de lá para cá, os seus componentes sempre lutaram para restaurá-la.
     Finalmente, neste ano de 2013, somente com recursos próprios, podemos dizer que tal qual a Fênix que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas, a Lyra de Apollo está renascendo... No dia 15 deste mês, estruturas metálicas foram colocadas para receber a laje e o telhado, com design original. Este para mim, é o maior exemplo de preservação de Campos, sendo realizado por pessoas simples e sem dinheiro do poder público.
     Conheça mais a Lyra, através do músico e pesquisador Fabiano Artiles.









SOCIEDADE MUSICAL LYRA DE APOLLO
Por Fabiano Artiles

FUNDAÇÃO:

     Sua fundação se deu em 19/05/1870, na Rua da Constituição (atual Av. Alberto Torres), nº 39 (onde hoje está situado o “Empada Carioca”). Ao que tudo indica, seus primeiros membros e sócios-fundadores já faziam parte de outras sociedades musicais da época, porém estas sociedades eram pequenas, com repertório voltado à música religiosa (boa parte desses sócios eram membros de Igrejas, como o fundador Manoel Baptista Pereira de Castro). Contudo, a data de 19/05/1870, é apenas uma mera formalidade. Na verdade, a banda já existia antes desta data. A Sociedade Musical Lyra de Apollo surgiu quando esses músicos, membros de outras sociedades musicais, se juntaram e foram às ruas, tocando música, e fazendo uma espécie de “alistamento”, convocando os homens que apareciam pela frente, convocando aqueles que ficaram conhecidos como os “Voluntários da Pátria”, para a Guerra do Paraguai. Assim nasceu a Lyra de Apollo. A fundação, em 19/05/1870, foi também uma forma de se comemorar o triunfo brasileiro na Guerra. (A Guerra terminou em Abril de 1870.) Entre os seus primeiros sócios-fundadores destacam-se: Manoel Baptista Pereira de Castro, Rodolpho Antonio d'Oliveira, Lourenço Antonio Soares, Bernardo Bento Alves, Vicente Lusquinhos Junior e Frederico Leopoldo Itaborahy.

A SEDE:

     Depois de mudar de vários endereços pelo centro da cidade (Rua da Constituição, Rua da Quitanda, Rua Barão do Amazonas...), a Lyra de Apollo encontrou o seu lugar na Praça São Salvador, ao lado da Igreja Matriz, hoje a Catedral do Santíssimo Salvador.  O terreno foi comprado em 1909, tendo iniciado a construção do prédio em 1912, e inaugurado em 1914, com esforço e suor dos próprios membros da sociedade musical, além de doações da própria população campista, que sempre teve uma forte ligação com a banda. Um fato curioso: as ferragens que sustentam o prédio são simplesmente os trilhos que pertenciam a Estação Ferroviária da Leopoldina e as pedras, para o alicerce, do cais do Rio Paraíba do Sul. Em ambos os casos, foram levados às escondidas da polícia, sempre pela noite.A Lyra de Apollo só conseguiu pagar a última parcela pelas obras da sede em 1921. Hoje, em 2013, o prédio começa a ser reconstruído (após um incêndio em Novembro de 1990) graças aos esforços e uma luta quase que diária do Presidente e Maestro da Banda, o Sr. Ricardo de Azevedo. No dia 15/09/2013 foram colocadas as ferragens para a cobertura do prédio.

O presidente e maestro Ricardo de Azevedo e seus companheiros músicos da Lyra de Apollo.

14/09/2013, neste dia, não foi possível a instalação das peças metálicas por detalhes técnicos.

15/09/2013, finalmente as peças metálicas foram colocadas.
(Foto: Fabiano Artiles)

Detalhe da estrutura metálica já instalada, que irá receber a laje e o telhado com o design original.

Um dos cômodos no andar superior em obras, com paredes restauradas.

O músico e pesquisador Fabiano Artiles.


 O blogueiro e historiador João Pimentel, na sacada do Lyra de Apollo.

Sacada da Lyra de Apollo, ao fundo a Praça São Salvador.

A escada original de acesso ao pavimento superior.

     O maestro e presidente da Lyra de Apollo, Ricardo "Coração de Leão" Azevedo, com Fabiano Artiles e João Pimentel

FATOS E CURIOSIDADES:

- A Lyra de Apollo tem como padroeira Nossa Senhora da Glória e suas festas eram realizadas no mês de Agosto, na Igreja da Boa Morte.
- As cores oficiais da Lyra de Apollo são vermelho e amarelo (dourado).
- A Sociedade Musical Lyra de Apollo participou diretamente do movimento abolicionista em Campos dos Goytacazes-RJ, tendo tocado por inúmeras vezes nas conferências abolicionistas, geralmente realizadas no Teatro Empírio ou, às vezes, no Teatro São Salvador. Alguns dos sócios e músicos da Lyra de Apollo faziam parte do grupo de abolicionistas da cidade. A banda tocou nas comemorações da cidade pela assinatura da Lei Áurea.
- Em 14/06/1875 tocou na chegada de Dom Pedro II e da Família Imperial em Campos dos Goitacazes-RJ. Nesta data foi lançada a pedra fundamental da Estação Campos da Estrada de Ferro Carangola.
- Tocou na inauguração do Teatro Trianon, da Usina Santa Cruz, da Biblioteca Municipal de Campos, do então novo prédio dos Correios, na Praça São Salvador, da TV Norte Fluminense e na inauguração do Sandu, em Campos dos Goytacazes-RJ.
- Tocou na visita de Getúlio Vargas a Campos; tocou na campanha presidencial em 1950, para o presidente Eurico Gaspar Dutra; também tocou para o presidente Juscelino Kubitschek no Rio de Janeiro e na chegada de João Goulart, ao Brasil, em 1961, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro;
- Foi a Banda Oficial do Tiro de Guerra, em 1929.
- Estiveram na Lyra de Apollo, tocando e/ou estudando, os sambistas Wilson Baptista (tocou triângulo na banda, ainda garoto) e Delcio Carvalho (estudou música na banda com o maestro Etienne Samary). Dois dos maiores sambistas de todos os tempos do país.
- Sempre esteve entre os primeiros colocados do Encontro Estadual de Bandas, onde podemos destacar: o 2º lugar em 1976 (na Quinta da Boa Vista), o 3º lugar em 1980 (entre 38 bandas), o 1º lugar em 1982 (em Cabo frio), o 1º lugar em 1996 (em São Fidélis) e o 2º lugar em 1997 (em Rio das Ostras).
- A grande rival da Lyra de Apollo em Campos foi a Sociedade Musical Lyra Guarany. Numa rivalidade que se assemelhava muito com as rivalidades entre times de futebol.
- Principais maestros: Manoel Baptista Pereira de Castro, Lourenço Antonio Soares, José Ferraz, Joaquim Barbosa Fiúza, Juca Chagas, Álvaro de Andrade Reis (“Lóquinha”), Etienne Samary e Ricardo de Azevedo.




     *Em 2013 está sendo produzido um Documentário sobre a história da Sociedade Musical Lyra de Apollo, pelo músico e pesquisador Fabiano Artiles (que também prepara um livro sobre a sociedade musical), pela pesquisadora e cantora Simone Pedro, pela jornalista Talita Barros (do site Comum Cultura) e pelo designer Breno Lobato (do site Comum Cultura).



FONTES:

“Recortes da Memória Musical de Campos” de Vicente Marins Rangel Junior; Pesquisa pessoal do músico Fabiano Artiles, com auxílio da pesquisadora Simone Pedro, para a produção do documentário e do livro sobre a história SOCIEDADE MUSICAL  LYRA DE APOLLO.



3 comentários:

  1. Belo registro. Em breve veremos esse prédio tinindo, e quem sabe algumas aulas de sax :D

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  2. Torço para que em breve esta minha crônica-protesto não faça mais sentido:Uma lira? Um lírio? Lira de Apolo
    Walnize Carvalho
    Era costume acordar com música.Coloquei o Cd de Chico para tocar: "A Banda".
    Sai à rua cantando o refrão:"estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar...".
    Uma cena me deteve.
    Parei e me veio à mente a frase: "tirar leite das pedras"...Mas, ali era tirar melodia dos escombros!
    Sim. A Lira de Apolo estava em frente ao esqueleto do prédio (que outrora fora a sede) comemorando mais algum ano de existência. De existência ou resistência?...
    Pois, em meio aos escombros, poeira, madeiras com cupins, telhado exposto a melodia ecoava no ar.
    Os transeuntes foram parando para presenciar o evento.
    Eu, sacudida pela emoção, segui em frente...
    De longe, ainda dava para ouvir os acordes musicais.
    Um delírio?Não. Um lírio naquela manhã: A Lira de Apolo.


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  3. Valeu Walnize. Esta crônica abrilhantou a renascimento da Lyra de Apollo.

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