O
propósito deste estudo é resgatar a história doa símbolos do Município de Campos
dos Goytacazes e dessa forma proporcionar sua correta descrição heráldica e
esclarecer o significado de todos os seus elementos, forma e dimensão, como
também do simbolismo de cada uma de suas peças e de cada uma de suas cores. Êle
possibilitará um entendimento mais claro sobre o Brasão de Armas e a Bandeira
do Município de Campos dos Goytacazes, de forma a não pairar dúvidas sobre seu
significado e representatividade. Ao longo de mais de 100 anos, desde
a criação do brasão de armas de Campos dos Goytacazes, surgiram inevitáveis
deturpações iconográficas que, de forma inadvertida e progressiva, ocorreram
tanto no desenho do conjunto do Brasão de Armas como nas formas das peças que o
compõem. Isso ocorreu quando o brasão teve que ser sucessivamente desenhado,
para fins de sua reprodução em impressos, devido à variação do número dos
distritos que compõem o Município.
A importância da heráldica para os estudos históricos, sejam eles
políticos ou sociais, é manifesta. Dessa maneira, nossa intenção é a de
proporcionar a cidadania campista um documento completo com todos os
elementos que definem a forma, os elementos, as razões e o simbolismo do Brasão
de Armas e da Bandeira do Município.
Os símbolos do Município de Campos dos Goytacazes são: o Brasão de
Armas do Município, a Bandeira Municipal e o Hino Municipal com letra de
Azevedo Cruz e música de Newton Perissé Duarte. Foi no dia 16 de
setembro de 1954 que o Hino de Campos, era cantado pela primeira vez em
público, no Clube de Regatas Saldanha da Gama, pelo Orfeão Santa Cecília.
Letra do hino do
município de Campos dos Goytacazes
Campos Formosa,
intrépida amazona
Do viridente plaino
goitacás
Predileta do luar
como Verona
Terra feita de luz
e madrigais
Ó Paraíba, ó mágica
torrente
Soberana dos prados
e vergéis
Por onde passas
como um rei do oriente
Os teus vassalos
vêm beijar-te os pés
Nada iguala os teus
dons, os teus primores
Val de delícias, o
teu céu azul
Minha terra natal
ninho de amores
Urna de encantos,
pérola do sul
Campos Formosa,
intrépida amazona
Do viridente plaino
goitacás
Predileta do luar
como Verona
Terra feita de luz
e madrigais
Ó Paraíba, ó mágica
torrente
Soberana dos prados
e vergéis
Por onde passas
como um rei do oriente
Os teus vassalos
vêm beijar-te os pés
Ó Paraíba, ó mágica
torrente
Rio que rolas
dentro do meu peito.
Com este estudo se procura resgatar para as gerações atuais e
futuras o conhecimento histórico e o significado do Brasão de Armas e da
Bandeira do Município de Campos dos Goytacazes.
O Brasão de Armas, que é um
dos mais antigos símbolos municipais, vem sendo usado desde o início do século
XX, como vemos na Planta da Cidade desenhada em 1902. O Brasão tem a seguinte
descrição heráldica: “Tarja de prata (representada pela cor branca) sobre a
qual está assentado um escudo oval de blau (azul) com a representação da constelação
do Cruzeiro do Sul, que consta de cinco estrelas, de prata, posicionadas como
se observa no céu. Como apoios do escudo, duas hastes de cana-de-açúcar
folhadas, ao natural, colocadas à destra (direita), e um ramo de cafeeiro, ao
natural e frutado de goles (vermelho), colocado à sinistra (esquerda), e
passados em aspa atrás do escudo. Como divisa, num listel de ouro (representado
pelo amarelo), a legenda ‘IPSÆ MATRONÆ
HIC PRO JURE PUGNANT’ escrita em letras latinas de sable (preto), que vai
colocado atravessante em banda sobre o escudo e a tarja, continuando sob a
ponta da tarja e formando três pregas, a primeira se sobrepondo à base das
hastes de cana, e a última à base do ramo de cafeeiro. Como timbre, um barrete
frígio de goles (vermelho), que a sua vez vai encimado por um listel em forma
de arco, também de ouro, com a inscrição ‘CAMPOS
DOS GOYTACAZES’, em letras latinas de preto”.
A interpretação e justificativa de cada uma das peças, metais e
cores indicadas no Brasão de Armas do Município é como se detalha a seguir:
a) A tarja e o escudo oval, por serem formas antigas de escudos
usados na heráldica, foram escolhidos para recordar as remotas origens
históricas da colonização das terras do atual Município, que começou a partir
de 1627, depois que
o governador da capitania do Rio de Janeiro, Martim Correa de Sá, doou algumas
glebas aos chamados "Sete Capitães", que construíram, em 1633,
currais para gado, próximos à Lagoa Feia e à Ponta de São Tomé.
b) O Cruzeiro do Sul, representado no centro do escudo, lembra a
respectiva constelação e as estrelas que brilham no nosso céu e que por séculos
serviam de guia para os navegantes e os descobridores de nossa terra e vem
simbolizar as aspirações dos campistas por objetivos superiores e por ações
sublimes. Alem disso, no
Brasil, o Cruzeiro do Sul é a mais conhecida das 88 constelações em que se
dividem as estrelas vistas da Terra, isso não apenas por sua fácil
identificação no céu, como também por figurar em posição de destaque (central)
na Bandeira do Brasil e no Brasão de Armas da República. O Cruzeiro do Sul também recorda o momento histórico
da Proclamação da República, pois nessa ocasião a constelação passava sobre o
meridiano da cidade do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil.
c)
O barrete frígio, que é uma espécie de “touca”
ou “boné”, era originariamente usado pelos habitantes da Frígia, um antiga
região da Ásia Menor, localizada hoje onde está situada a Turquia, e que se
tornou um verdadeiro ícone libertário internacional e virou uma peça habitual
nos movimentos populares. Ele foi adotado, na cor vermelha, pelos republicanos
franceses que lutaram pela tomada da Bastilha, em 1789, que culminou com a
instalação da primeira república francesa, em 1793. Sua inclusão como timbre do
brasão foi para simbolizar o regime republicano que rege a nação brasileira, e
para recordar que inúmeros campistas marcaram a presença de Campos nas
campanhas republicanas. Seria errado interpretar o “barrete frígio” como sendo
alguma touca.
d) Como é dever do cidadão e dos poderes públicos, de preservar a
história, já que o passado proporciona os alicerces e fundamentos para o
presente e desenvolve as projeções para o futuro, se considerou importante
manter no Brasão de Armas do Município a significativa e histórica divisa em
latim, “IPSÆ MATRONÆ HIC PRO JURE
PUGNANT”, que significa “Aqui até as mulheres lutam pelo direito”,
que alguns historiadores atribuem a criação do Brasão à Câmara Municipal de
Campos, conforme consta da Planta da Cidade que foi desenhada em 1902. Foi com
o primeiro prefeito municipal de Campos, o Dr. Manoel Rodrigues Peixoto,
advogado, cujo mandato foi de 1904 a 1905, que o brasão municipal, com a
divisa, foi mais amplamente divulgado. A legenda recorda o esforço e a coragem
de mulheres como Benta Pereira e sua filha Mariana Barreto, que lutaram pelo
direito, pela justiça e pela liberdade, numa época em que a cidadania vivia num
clima de terror e violência, e que a gente estava oprimida e sofria nas mãos
dos Assécas que dominavam estas terras. Essa era uma época histórica em que as
mulheres não tinham direitos civis, isto é, nem vez e nem voz. Com essa legenda
se presta uma merecida homenagem e valoriza a todas as anônimas mulheres
campistas que trabalharam e que trabalham com dedicação, em múltiplos setores,
pelo desenvolvimento social e econômico do Município.
e) Faz-se presente que o uso de divisas em latim é comum na heráldica
mundial e no Brasil, destacam fatos históricos nacionais, estaduais ou locais,
e ressaltam a antiguidade da criação dos Estados e Municípios. Por exemplo no
Brasão e na Bandeira do Estado do Rio de Janeiro, com “RECTE REMPUBLICAM
GERERE” que significa “Gerir a coisa pública com retidão”; no Brasão e na
Bandeira do Estado de Minas Gerais, com a divisa “LIBERTAS QUAE SERÁ TAMEN”,
que recorda os anseios de liberdade e independência que motivaram a
inconfidência mineira, que significa “Liberdade ainda que tardia”; no Brasão de
Armas do Estado de São Paulo, "PRO BRASILIA FIANT EXIMIA", que lembra a
contribuição do Estado para o desenvolvimento nacional, e que significa: “Pelo
Brasil façam-se grandes coisas”; no da Brasão cidade de São Paulo, “NON DUCOR
DUCO”, que significa, “Não sou
conduzido, conduzo”, e em muitos outros
brasões municipais.
f)
O listel com a legenda foi colocado na posição em banda, sobre a
tarja e o escudo oval, ou seja, em posição diagonal da direita e descendo para
a base esquerda, e envolvendo o conjunto vem a se sobrepor às bases das hastes
da cana-de-açúcar e do ramo de cafeeiro, assim recordando a importância do Rio
Paraíba do Sul que corta e nutre o solo do Município, favorecendo sua
agricultura, e que por muitos anos foi um dos facilitadores das comunicações e
via de escoamento da produção agrícola local e de ingresso de gêneros para o
comercio. A forma envolvente do listel, comparada com o Frio Paraíba, vem
também recordar uma das estrofes do Hino de Campos, com letra de Azevedo Cruz e
música de Newton Perissé Duarte, que enaltece a importância do Rio Paraíba: “Oh Paraíba, oh mágica torrente! Soberana
dos prados e vergeis! Por onde passas como um rei do Oriente, Os teus vassalos
vêm beijar-te os pés!... Rio que rolas dentro do meu peito!”.
g)
O metal ouro, usado no listel, representado em desenhos coloridos pela cor amarela, e em desenho
não-colorido por um ponteado miúdo, é o mais precioso e nobre
dos metais heráldicos e no Brasão de Armas de Campos vem simbolizar a Força, a
Riqueza e o Comando que sempre estiveram presentes nas mentes e nos corações
dos campistas, em todas as etapas da construção do Município, e recordar a riqueza
que era transportada por barcos, através das águas do rio Paraíba do Sul,
reafirmando a comparação poética feita no Hino de Campos, do rio com um rei do
Oriente. Lembra-se que de acordo com as leis da Heráldica, num Brasão, a
posição destra, ou direita, se refere à parte direita do escudo, que é
contrária a posição do observador.
h) A
conjugação do ouro do listel com o preto da inscrição da legenda e do nome do
Município vem simbolizar a Prudência, a Abnegação e a Harmonia existente entre
todo o povo do município de Campos dos Goytacazes onde, com uma grande
variedade e mistura de raças e religiões, sempre foi um lugar sem preconceitos
de qualquer natureza e onde a liberdade é igual para todos. Essa combinação de
ouro com a cor preta (sable) vem também simbolizar o “ouro negro”, como é
denominado o petróleo, que abunda na plataforma continental do município.
i) As
hastes de cana-de-açúcar e o ramo de cafeeiro frutado, recordam duas das
culturas agrícolas que historicamente incentivaram e consolidaram a colonização
do território, sendo que a cana-de-açúcar foi por muito tempo o esteio da
economia local, e que promoveu o estabelecimento de usinas no Município. Com
essa representação no Brasão, se recorda que a cana-de-açúcar, originária do
Oriente, teve sua primeira muda plantada em solo da região em 1539, trazida por
Pero de Góis, e que a primeira usina de açúcar foi construída em 1879. Ainda que hoje o Município de
Campos dos Goytacazes não tenha uma expressiva participação na produção
estadual de café, o ramo de cafeeiro vem recordar que essa cultura foi
importante para a economia da região na época da consolidação da colonização do
município, tendo feito sua entrada triunfal no Vale do Paraíba no final do
século XVIII, e que descendo o curso do rio Paraíba do Sul e de seus afluentes,
cobria a região litorânea até Campos dos Goytacazes de onde subiu a serra e
alcançou a região montanhosa. A conjugação das hastes de cana com o ramo de
cafeeiro destaca a importância do setor agrícola para o Município.
j) O metal prata, normalmente
representado em desenhos coloridos pela cor branca, e em não-coloridos como
área vazia, é um dos metais mais usados na heráldica, e no brasão de Campos
dos Goytacazes foi usado na tarja para simbolizar a Amizade existente entre os
cidadãos, a Equidade ou disposição de reconhecer o direito de cada um, a
Justiça que é o fundamento da cidadania, e a Inocência e Pureza que transpiram
dentro das fronteiras municipais. O branco,
que é a soma de todas as cores, vem também traduzir a diversidade social
(raças, sexos, religiões, etc.) e reafirmar a união da população e a ausência
de sentimentos belicosos.
k) O blau (ou azul) do campo do escudo, representado em desenhos coloridos pela cor azul, ou por um hachuriado
horizontal, em desenho não-colorido, sendo a cor do céu, vem
simbolizar todas as idéias que vêm do alto e que sempre inspiraram o
desenvolvimento municipal, traduzindo a Firmeza da cidadania, a Glória que é um
fato que se realça sobre as coisas terrenas, e a Virtude que é um dom
celestial.
l) O goles (ou
vermelho) usado no barrete frigio, e representado em
desenhos coloridos pela cor vermelha, ou por um hachuriado vertical, em desenho
não-colorido,
recorda a história das lutas pela colonização da terra e pela autonomia do
município, e lembra a Coragem e o Amor dos campistas por sua terra, enquanto
que o vermelho também simboliza a Caridade, a
Generosidade e a Honra que sempre inspiraram a cidadania campista.
m)
A
forma do listel, em arco voltado para cima, com a inscrição “CAMPOS DOS GOYTACAZES”, e posicionado na parte superior do
Brasão, vem simbolizar a atitude positiva e a vontade inquebrantável da
cidadania campista de crescer e de projetar o nome do Município sempre mais em
alto.
A Bandeira
do Município, consta de um retângulo de
tecido, medindo 1,90m no sentido da altura (correspondendo a 19 módulos) por
2,60m no sentido da largura (correspondendo a 26 módulos), que está dividido
horizontalmente em três partes distintas: uma superior com 4 módulos, a sua vez
dividida em duas partes iguais, de verde e amarelo, cada uma com 2 módulos; uma
central de azul com 11 módulos; e uma inferior com 4 módulos, também dividida
em duas partes iguais, de amarelo e verde, cada uma com 2 módulos. Na parte
central, de azul, vai inserido o Brasão de Armas do Município, conforme
descrito no Art. 1º. e o seu parágrafo único, que por sua vez está circundado
por 15 estrelas de prata (representada pelo branco), em representação dos
distritos do município, sendo que a estrela localizada no ponto central
superior será sempre de tamanho ligeiramente maior, por representar o 1º.
Distrito, sede do município.
As dimensões da Bandeira Municipal indicadas neste artigo são as
normais, entretanto poderão ser fabricadas bandeiras de dimensões maiores ou
menores, conforme as necessidades e condições de uso, mantidas, entretanto, as
devidas proporções de 19 módulos de altura por 26 de
largura, e o tamanho das estrelas como do Brasão de
Armas será sempre proporcional às dimensões da bandeira, que o numero de
estrelas será sempre igual ao número de distritos que componham o
Município.
A conjugação das cores verde e amarelo na parte superior e
inferior da Bandeira Municipal vem reafirmar que o Município de Campos dos
Goytacazes é parte integrante da federação brasileira, sendo que o verde, além
de simbolizar a Vitória, a Civilidade, a Abundância, a Honra, o Serviço e o
Respeito, atributos inegáveis da população campista, também representa a
Esperança que se refere à cor verde dos pastos da vasta planície que cobre o
município, que com sua promissora agricultura e fruticultura são esteios da
economia local; e o amarelo simboliza as aspirações de desenvolvimento que
sempre estiveram presentes nas mentes dos campistas.
O ensino dos símbolos municipais e do significado do Brasão e da
Bandeira Municipal, deveria ser incluído no currículo de todas as escolas
municipais, que, anualmente, poderiam aproveitar as celebrações das datas
comemorativas do Município para incluir em suas programações, atividades que
enfatizem o ensino do significado do Brasão de Armas e da Bandeira, assim como
da letra do Hino Municipal.
Brasão de Armas do
Município de Campos dos Goytacazes
(em cores)
Brasão de Armas do Município de Campos dos
Goytacazes
(em preto e branco)
Brasão
de Armas do Município de Campos dos Goytacazes
(em tons de cinza para uso como
marca d’água em impressos)
Brasão
de Armas do Município de Campos dos Goytacazes
(desenho sem cores ou
hachuriado)
Bandeira do Município de
Campos dos Goytacazes
(em cores)
Bandeira Flamulada do Município de Campos dos Goytacazes
(em cores)
Fonte:
Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (RJ)
http://ihgcg.blogspot.com.br/
Texto e ilustrações:
Alberto Fioravanti (Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes)
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